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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Taekwondo marcial ainda esquecido

 Marcus Rezende


   Se sairmos hoje às ruas perguntando às pessoas se conhecem a capoeira, o caratê, judô, jiu jitsu e até mesmo o Muai Thay, dirão que sim; que são lutas marciais de cuja eficiência cada uma delas se caracteriza distintamente uma das outras.
E o taekwondo? A maioria dirá que não conhece. Outras dirão se tratar de uma luta. Algumas lembrarão tratar-se da modalidade da medalhista olímpica Natália Falavigna e de Diogo Silva (os maiores ícones brasileiros desta modalidade marcial desportiva).

Porém, a esmagadora maioria dos que disserem conhecer o taekwondo descreverá o seu conhecimento pelo ângulo desportivo e dirá tratar-se de uma luta cujas características se baseiam em regras definidas pelo contexto do olimpismo. Ou seja, uma modalidade para cuja eficiência marcial o atleta precisa saber usar as pernas.

Diferentemente do taekwondo, as regras de competição das lutas marciais sobreditas não passam pela gigantesca diferença entre o que se ensina na academia enquanto arte marcial e o que se pode utilizar na hora da competição.

Já na modalidade coreana, a diferença é brutal. Pergunte ao professor ou mestre de taekwondo quantas vezes precisou explicar aos outros (àquele que diz conhecer o taekwondo) que a arte marcial não se limita ao uso das pernas, e que o aluno aprende também a socar, defender-se, aplicar cotoveladas, cuteladas, joelhadas, chutes baixos, entre outras técnicas proibidas na competição olímpica.

A partir deste ponto, chegamos ao cerne do problema que envolve o taekwondo marcial praticamente desconhecido e o taekwondo olímpico parcialmente divulgado e entendido por regras específicas. Toda vez que o taekwondo tem a oportunidade de aparecer na mídia, uma luz de esperança acalenta o coração de quem ensina a modalidade. Fica sempre a esperança de que no dia seguinte, dezenas de pessoas estarão se matriculando em academias próximas de onde residem. Foi assim em 2000, quando o Brasil participou com a atleta Carmen Carolina, nas Olimpíadas de Sidney, até o dia em que Natália Falavigna empunhou a tão sonhada medalha olímpica em Pequim 2008.

Porém, de concreto, no que concerne ao verdadeiro conhecimento do que seja a modalidade, nada aconteceu. As academias continuam vazias e o interesse pelo taekwondo ficou ainda mais comprometido com a forte exposição na mídia dos eventos de MMA, para cujo acesso (sobretudo no UFC ) os requisitos marciais de um lutador estão no domínio do Jiu jitsu, Muai Thay, Wrestle e um pouco do caratê por causa do lutador Lioto Machida. Para desconstruir um pouco esta máxima, nem o nosso embaixador do taekwondo, Anderson Silva, deu uma forcinha.

Dessa vez a comunidade docente taekwondista se apega à nova exposição da modalidade à telinha da Globo. A novela Malhação abrirá espaço para apresentar, mais uma vez, o taekwondo como esporte e não como arte marcial. O ator Murilo Rosa, que foi praticante nos anos de 1980 e 1990, fará o papel de treinador de um atleta. A direção será coordenada pelo abnegado mestre Alan do Carmo, do Rio de Janeiro, e toda a trama dar-se-á em torno de uma competição.

Para efeito de divulgação do nome Taekwondo, tal inserção na mídia global é melhor do que nada. Mas muito aquém do que precisamos para divulgar maciçamente a essência da modalidade.

Assim sendo, temos que permanecer conscientes de que o caminho para a ascensão desportiva do taekwondo, por mais paradoxal que seja, está no fomento da modalidade enquanto arte marcial.
Por mais que a internet esteja ajudando neste propósito, com a divulgação de diversos vídeos, há muito o que fazer. Os professores e o mestres precisam levar a modalidade para fora das quatro paredes de suas academias e apresentá-la dessa forma à sociedade. O lado competitivo, obviamente, deve estar inserido como parte do contexto, porém, subjugado a alusão clara de que o atleta surge do seio marcial.


Assim penso.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CBTKD convida para exame de faixa no Acre

Marcus Rezende


Se o taekwondista brasileiro fosse um sujeito mais esclarecido, a maioria das federações estaduais que pouco fazem pelos mestres e professores de taekwondo do estado em que atuam e a própria CBTKD estariam realmente falidas. Mas como não é assim, ainda há quem se submeta ao escárnio das bancas examinadoras promovidas por esta entidade.

A falência a que me refiro já deu as caras. A aparente organização que demonstram possuir, se dá em razão do financiamento público cuja tendência é minguar logo após as Olimpíadas.
E nesta toada, o negócio é arrecadar a grana em exames de faixa de quem quer ostentar altas graduações.

No site paralelo da confederação, podemos apreciar o recente convite feito aos faixas pretas do estado do Acre, para que participem do exame de faixa que deve ocorrer em 28 de Dezembro.

A CBTKD faz questão de ressaltar que só receberá as taxas de registro da entidade, conforme a tabela. Porém, apresenta os singulares valores das taxas de exame de primeiro a sétimo dan (de R$ 860 a R$ 6 mil), sem definir quem vai levar o dinheiro.

A CBTKD esclarece que a banca examinadora é ela quem escolhe. Ou seja, o dindim da famigerada taxa vai para os mestres que compõem esta banca.

Enquanto alguns incautos se submetem a isso, a despeito de estarem obedecendo uma legalidade imposta, os mestres mais esclarecidos, obviamente, já há muito tempo, não dispensam um centavo de seus alunos a estes dirigentes que teimam em achar que mandam no pedaço. 

Centenas de profissionais do taekwondo por este Brasil afora estão se lixando para estas entidades. Não sentem a menor falta de se registrarem a elas, pois já perceberam que o trabalho que realizam não muda em nada. As federações até poderiam ser importantes. Mas não são porque não sabem ser.

Com a evolução das comunicações e a troca imediata de informações, muitos mestres perceberam que não dependem destes caras para manter o seu trabalho; que podem constituir a própria escola de taekwondo e certificar seus alunos com uma identidade própria. Muitos ainda já travam contato direto com entidades internacionais para um respaldo mais abrangente.

Diriam alguns dirigentes: E o sonho Olímpico dos praticantes?
Responderiam os mestres e professores: Quem os têm?
O sujeito que procura uma academia de Taekwondo quer aprender a se defender e não se tornar medalhista olímpico.


Se nos detivermos, por exemplo, aos grupos do facebook descobriremos muitos mestres e professores independentes trabalhando sem se importar com estas entidades. Essa é uma tendência natural. Cabe aos administradores do taekwondo brasileiro avaliarem o quadro e se reinventarem.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Tomando consciência do direito de ensinar sem precisar se federar

Marcus Rezende

 Seria tudo tão mais fácil para o taekwondo brasileiro se as pessoas que detêm o poder nas entidades de administração deste país compreendessem que a vida da modalidade não depende do poder que possuem, tampouco dos agrupamentos administrativos desportivos que dirigem e que, para o ensino do taekwondo, a lei do país respalda mestres e professores que não queiram se vincular a eles. 

Se fossem conhecedores da lei do país perceberiam que cada escola de taekwondo possui realidade própria e não deve ser tutelada por qualquer  entidade de administração desportiva que dirigem. 

Sendo assim, o que deveriam fazer para fortalecer a entidade? Teriam de envidar esforços para convencer mestres e professores a fazerem parte de seus grupos federativos, apresentando aos verdadeiros donos do taekwondo a máxima do servir e não do ser servido. Ou seja, tentariam demonstrar a estes mestres e professores que a união de todas as escolas em torno de uma entidade poderia gerar um ganho maior a todos. Ponto final. Não tem outra regra. Não adianta ficar inventando fórmulas  estatutárias que burlem a lei maior do país, sobretudo garantias individuais estabelecidas na Constituição Federal.

Mas o que estamos vendo ainda no Brasil? Uma total falta de entendimento desta máxima e o consequente recrudescimento destas entidades, cuja intransigência faz com que os mais antenados e conscientes se afastem e passem a cuidar de sua escola de forma independente sem se preocupar com o tão distante e difícil sonho olímpico. 

Estes mestres mais ligados nos direitos que possuem, ensinam a arte marcial, graduam seus alunos entregando-os certificados de sua própria escola. Em alguns casos, fazem o link direto com o órgão máximo do taekwondo mundial, o Kukkiwon, e registram os faixas pretas diretamente e sem intermediários.

Do outro lado ficam os menos esclarecidos acuados e com medo de que a federação os proíbam de ensinar o taekwondo; submetendo-se ao escárnio e mantendo-se desestimulados a fomentar o trabalho que realizam.

As federações, achando que o taekwondo gira em torna delas, passam a transformar-se em agremiações, jogando pra si a responsabilidade sobre o treinamento de atletas e o gerenciamento das práticas marcial dos adeptos do estado. E nesse gerenciamento estão os almejados e rentáveis exames de graduação cuja responsabilidade deveria ser da escola original, mas que é transferida por alguém indicado por um dirigente, o qual, no mais das vezes, é o próprio examinador.

Muitas destas entidades acreditam que os mestres e professores independentes estão sofrendo e se importando com o fato de não fazerem parte do sistema olímpico. Como se o praticante ao procurar uma academia para treinar, quisesse em primeiro lugar saber se poderia ser um atleta olímpico.


Portanto, se as federações não se reciclarem e não entenderem o seu real papel neste contexto desportivo, vão ficar a ver navios, pois a tendência agora é que as relações entre as comunidades taekwondistasa se estreitem e que as informações cheguem de uma forma mais sensível a cada um desses atores. 

Se os dirigentes continuarem a insistir na tese de que a federação deve preparar atletas e examinar praticantes, será engolida em pouco tempo, pois rapidamente a consciência do que é certo e legal dentro do direito de ensinar, dará a cada professor e mestre o rumo que ele deve seguir