Páginas

terça-feira, 30 de junho de 2015

Federações não querem que Pinto caia

Marcus Rezende

Cartas que os presidentes das federações de taekwondo coligadas à CBTKD enviaram à entidade se solidarizando com o presidente da confederação, Carlos Pinto, depois que os Desembargadores do Rio de Janeiro decidiram anular o tal estatuto ilegal e inconstitucional, aprovado em Novembro de 2011.

Lendo cada uma delas ficou a impressão de que o mandatário da CBTKD emanou ordem para que os presidentes abordassem conteúdos específicos no intuito de sensibilizar os magistrados. 
Como toda unanimidade é burra, como diria Nelson Rodrigues, com pouca criatividade, os presidentes das entidades estaduais deixaram isso claro em suas manifestações de repúdio à decisão do TJ do Rio de Janeiro e de apoio ao presidente da Confederação Brasileira de Taekwondo.

Se o leitor conhece um desses presidentes estaduais, pergunte a eles por que até o momento não se manifestaram em relação à publicação no site da entidade sobre a prestação de contas ordinárias da CBTKD do ano de 2014? Será que a AGO ocorreu, mas as contas não foram apresentadas? Será que estão atrás das notas que justifiquem os gastos? Podemos pensar em qualquer coisa, em se tratando deste grupo sob eivadas suspeições de desvio de dinheiro público.Mas isso tudo está sendo apurado. Só esperamos que os presidentes estaduais que hoje defendem esta gestão, mantenham-se fieis quando as suspeitas forem comprovadas.


E ainda questionam não terem sido ouvidos pelos desembargadores.




As cartas que resumo a seguir foram anexadas a uma apelação que a CBTKD fez à 3ª Câmara Cível.


Vamos analisar alguns trechos das cartas.

O que diz o presidente Gilson Baracho, da Federação Esportiva Fluminense: “Ficamos sem entender porque o poder judiciário do estado do Rio de Janeiro não deferiu as provas testemunhais, tão importante para a apurar a verdade dos fatos neste processo”.

Ora, não seria porque os magistrados entendem que o papel de uma federação é o de fiscalizar e não o de defender a confederação? Tem que respeitar a decisão da justiça, presidente, e procurar entender o que ocorreu de verdade. Ao que parece, não leu a decisão.


O presidente da Federação da Bahia, José Carlos Teixeira, vai na mesma toada e diz que a decisão está causando temor aos atletas da Bahia e um retrocesso no nordeste. Sem comentários!


Já o presidente da Federação Maranhense, Geová de Sousa, também se manifesta contra a decisão do TJ do Rio, argumentando que o a nova gestão valoriza os atletas em todo o território nacional e diz que a atitude do egrégio tribunal foi equivocada. Ora, solicito ao presidente que faça a defesa, então, dos trechos inconstitucionais deste estatuto aprovado.


Já o presidente da Federação do Tacontins, Pedro Araújo, vai ao paroxismo quando diz que os internautas se apropriaram da decisão dos desembargadores para destruir a imagem do esporte. Chega a ser ridículo acreditar que os desembargadores tomaram suas decisões baseados no que alguns poucos descontentes (na visão dele) vem publicando.


O presidente da entidade de Mato Grosso, Hélio Ribeiro, inicia a carta com a mesma ladainha dos demais, dizendo que esteve presente à tal Assembleia e que o estatuto aprovado foi o lido a todos. Lamenta também o fato de não ter sido ouvido como testemunha. Diz que a decisão dos desembargadores é desastrosa e que serve para favorecer um pequeno grupo. Presidente, a modificação posterior no estatuto foi provada.


O Presidente do Amazonas, Raimundo Gomes, diz que a decisão traz a ele muitos transtornos em vista do calendário desportivo. Não explica onde está o erro na decisão, mas diz esperar que a situação seja resolvida. Será, sim.


Aí vem a carta do presidente da Federação mineira que ocupou o lugar da original. O senhor Lécio Mizael diz que a decisão do TJ está trazendo desconforto. Explica que realizou isso..., realizou aquilo e que a decisão compromete o desenvolvimento do trabalho. Só pode estar brincando!


A carta do Presidente da Federação de Rondônia, Frank Lopes, se reporta ao planejamento da federação em relação às competições que estão por acontecer e que a decisão do TJ irá transformar os sonhos deles em caos. Em nenhum momento apresentou o erro do egrégio tribunal.


O presidente de Santa Catarina, Adelino Filho, manifesta “repúdio frente à decisão judicial que afronta a democracia e o poder máximo da entidade que é a assembleia geral”. É impressionante como os caras não conseguem entender que assembleias não estão acima das leis. Ele, com certeza, não prestou atenção nas alterações que Pinto fez no Estatuto cancelado pela justiça. Fala de instabilidade aos atletas, como se estes fossem fruto de trabalho federativo. É outro que parece entender federação como clube.


A carta do Presidente do Rio Grande do Norte, Rivanaldo Freitas (também técnico da Seleção Juvenil), não muda a cantilena. Parece uma cópia das demais. Apenas acrescenta a insegurança que o fato irá causar, em razão dos Jogos de Toronto e das Olimpíadas de 2016.


A carta do presidente da Federação do Paraná, Fernando Madureira, não vou nem comentar, pois o sujeito é simplesmente presidente de uma federação e técnico da Seleção principal. E pior, recebendo salário por isso. Que isenção tem pra falar alguma coisa?


Victor Amorim, da federação pernambucana, parece ter dado um CRTL C e um CRTL V (copiou e colou). Nada a dizer.


Daí vem a carta do presidente da federação do Amapá, Auciney Maciel. Ele se mostra preocupado com os prejuízos aos atletas e aos “resultados perante o nosso esporte no cenário mundial”. O que isso tem a ver com o cenário mundial, nobre presidente? O prejuízo mesmo pode recair sobre a cabeça do outro técnico da seleção brasileira, Junior Maciel (teria algum parentesco com o presidente?). Este certamente, havendo uma nova gestão com gente séria, estará fora.


A carta do presidente da federação de Roraima, Nailton Carneiro, pede a Pinto que se mantenha firme em suas atitudes e que ele “não se deixe abater por ações judiciais demandadas por quem nunca teve compromisso com o taekwondo”. A ação judicial é da FTEMG. Baseado em quê o nobre presidente diz que esta federação não tem compromisso com o taekwondo?


O presidente da federação do Piaui, Ricardo Paraguassu, fala do orgulho de se ter atletas no ranking mundial. Usa também a ladainha para que Pinto não se deixe abater por “ações demandadas por quem nunca teve compromisso com o Taekwondo”. Perceberam, o CRTL C e CTRL V?


Roberto Elias da Silva, de Mato Grosso do Sul, em carta minúscula, fala dos transtornos causados pela decisão. Diz que não viu nenhum tipo de alteração no estatuto. Realmente parece estar cego.

Em carta mais robusta, José Junior, da Federação de São Paulo escreve, escreve e não diz nada. Fico a imaginar os desembargadores lendo a carta dele. Não vão entender nada, pois até em soberania nacional ele se reporta, quando utiliza o espaço para criticar a vinda dos mestres da Kukkiwon ao Brasil.


Já Francisco Almeida Gomes, do Ceará, que inicia a carta da mesma forma pouco criativa que as demais, diz assim: “Conhecemos muito bem as pessoas que entraram contra a entidade na justiça”. Chega ao cúmulo de associar a vitória do atleta paraibano, Netinho, nos Jogos Olímpicos da Juventude, ao apoio que a CBTKD deu aos estados do nordeste. E o que isso tem a ver com o caso, ínclito presidente?


A carta do recém-empossado presidente da federação de Goiás, José Ricardo Favorito, faz parecer que o taekwondo competitivo do Brasil começou em 2011, quando diz que agora muitos atletas estão disputando competições internacionais e conquistando títulos para o nosso Brasil.


Itassi Camargo, do Acre, que foi empossado logo após a federação legítima ter sido desfiliada, diz se mostrar muito preocupado. Chega ao primarismo de perguntar se a atleta do estado dele, classificada para o campeonato mundial, será prejudicada com a decisão. Como se a vaga da atleta fosse fruto do trabalho da federação. É outro que deve achar que federação é clube. Triste.


Já o presidente da federação alagoana, Gilberto da Silva, cita a escravidão pela qual o taekwondo passava quando era dirigida por coreanos. Não fala nada com coisa nenhuma para que sua carta esteja anexada aos desembargadores.


O presidente da federação de Sergipe, Eduardo Gonçalves, inicia a carta com “imenso pesar”. Ele diz não entender por que as federações não foram chamadas para serem ouvidas no processo. Eu respondo: os desembargadores não são tolos. E completa a carta dizendo que o judiciário foi induzido ao erro. 
 Desembargadores induzidos ao erro e a CBTKD pagando os tubos a um dos escritórios de advocacia mais conceituados do Brasil? Ora, senhor presidente, não sejamos ingênuos.


O presidente da federação gaúcha, Olzemir Machado, diz que a decisão está causando o caos para os atletas. Dai fala em Olimpíada, em ranking em definição de atletas. Uma cartinha sofrível.


A carta do presidente da Federação do Pará, assinada por Denilson Costa, vem com título: INDIGNAÇÃO do PARÁ. Vamos deixar só uma frase dele: “a assembleia geral é unânime e suprema”. Imagina um desembargador lendo isso?


A Federação da `Paraíba, presidida por Tomaz Azevedo, também manda carta com título: “Federação Paraibana lamenta erro do judiciário do Rio de Janeiro”. Ele afirma que as 27 federações através do voto direto resolveram desfiliar as federações “ora em questão”. Acredita que uma assembleia tem esse poder. E ele finaliza dizendo que as federações desfiliadas não cumpriram com o que está escrito no estatuto. Que estatuto? O que foi anulado pela justiça? faça-me o favor...


E por fim o presidente da federação do Distrito federal, Ademar Inácio Lamóglia. Ele escreve a mesma coisa que os demais, mas faz questão de frisar que a CBTKD é regida por seu estatuto e que as assembleias são soberanas. Ora, presidente, ninguém discorda. Porém, acima do Estatuto estão as leis do país. A Assembleia soberana, por exemplo, não pode alterar regras legais que estão na Constituição Federal.

É por essas e outras que continuo afirmando que falta muita cultura desportiva aos presidentes das federações de taekwondo do Brasil.


Então, nobres presidentes, se o Pinto cair, seria de bom alvitre que os senhores abrissem mão de seus mandatos em solidariedade a este revolucionário presidente. E se a justiça confirmar a ilegalidade, os senhores devem também ser afastados, pois foram cúmplices desta ilegalidade. Ou não?