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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Que taekwondo competitivo queremos assistir?

Marcus Rezende

O Campeonato Mundial de Taekwondo de 2015, que ocorreu na Rússia, na cidade de Chelyabinks, entre os dias 12 e 18 de Maio, demonstrou claramente que a permanência das regras de pontuação e baixa calibragem dos protetores eletrônicos (privilegiando os toques leves com a perna da frente), teremos cada vez mais atletas compridos e magros no lugar mais alto do pódio.
Neste jogo técnico totalmente diferente do que fomos acostumados a ver (chutes fortes desferidos de trás explodindo no colete do adversário), basta um toque com a sola ou dorso do pé no colete eletrônico para que o ponto vá direto pro placar. Há inclusive anomalias técnicas que estão sendo utilizadas nos momentos de clinche e que surtem resultado. 
Grosso modo, o taekwondo que estamos vendo está se tornando uma espécie de esgrima com as pernas da frente. Nesta competição, raras foram às vezes que vimos movimentos contundentes buscando um nocaute.
A questão é: até que ponto este tipo de jogo vai entreter o público?
Pra responder esta pergunta a mim mesmo, chamei um aluno faixa branca para assistir uma das lutas da categoria até 58kg, no primeiro dia do Mundial. Acessei a página na internet e o deixei à vontade com as imagens que rolavam ao vivo. Ele não ficou à frente do computador por um minuto sequer. Desconversou e saiu. Só não disse que era entediante por respeito.
Estamos falando de uma arte marcial que, para atender a pré-requisitos do Comitê Olímpico Internacional, está se descaracterizando completamente.
Eu acredito (posso estar errado) que uma decisão modificaria completamente esta situação e traria ao taekwondo competitivo uma maior visibilidade técnica: o aumento da calibragem nos protetores eletrônicos nos moldes do Mundial de 2011. Se isso fosse feito, técnicas dos chutes duplos e triplos, saídas em linhas com contra-ataques contundentes, entre outras valências técnicas de um taekwondo vistoso (que foram sumariamente excluídas), devolveriam à modalidade olímpica uma maior semelhança com o taekwondo marcial.
É bom que se diga: atletas e técnicos não tem culpa. Eles jogam conforme as regras e fazem isso muito bem. Um exemplo de como jogar bem o jogo dos pontos e da excelente utilização da altura e pernas da frente pôde ser visto no atleta do Irã, da categoria até 80 Kg, Madhi Khodabakhshi. Ele simplesmente não tomou conhecimentos dos adversários. Nas últimas lutas deste Mundial, venceu o brasileiro André Bilia por 8x1, o norte americano Steven Lopez (pentacampeão mundial) por 13 x 1, administrou a semifinal contra o alemão Tahir Guelec por 8 x 6 e fez a final passando por cima do britânico Demon Sansum por 16 x 3. A habilidade demonstrada por Madhi, para dar toques no protetor e chutes no rosto com a perna da frente de forma totalmente sutil, foi impressionante.
Mas houve quem fugisse à regra deste jogo. O turco Servet Tazegul, da categoria até 68 Kg (o turco louco), campeão mundial de 2011 e Olímpico em Londres 2012, buscou a contundência dos chutes rodados. Mais uma vez deu o show que se esperava. Na semifinal e final, enfrentando atletas bem mais altos e que faziam o jogo dos pontos com a perna da frente, ele buscou alternativas por meio de suas piruetas. Desbancou o coreano por 16 x 13 e o russo Alexey Denisenko por 10 x 7, na final. Fazendo uma luta perigosa, ele desafiou as regras técnicas postas ao jogo e fez o que sabia: partir pra cima.

Outro que também fugiu à regra foi o belga Jaouad Achab. O mais baixo do pódio (mas que estava no lugar mais alto dele) se sobressaiu por sua extrema velocidade e por não fazer o jogo das pernas esgrimando. Ele usava, sim, a perna da frente. Mas utilizava-a com muita precisão. Fez a final com o espanhol Joel Bonilla (bicampeão mundial 2009 e 2011 e Olímpico em Londres 2012), muito mais alto, conseguindo vencê-lo com um jogo alternativo e envolvente.
O turco Servet Tazegul aplicando um tui tchagui no russo Alexey Denisenko na final do Mundial na categoria até 68 kg