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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Federações estaduais não mandam no taekwondo

Marcus Rezende


A Escola de Taekwondo Highway One, em Niterói ,no RJ, que eu supervisiono e que é dirigida pelo mestre Ricardo Andrade, procura manter a tradição brasileira de cobrança de honorários (trazida pelos mestres coreanos) aos que são examinados, compensando os instrutores, professores e mestres da escola com percentuais condizentes com a graduação que possuem. Acreditamos que o honorário visa estabelecer uma espécie de pensão ao mestre que, idoso, não teria mais a mesma saúde para ensinar. Entretanto, essa cobrança em nossa escola - que contempla a todos os envolvidos de forma gradual - segue um nível de razoabilidade, no que se refere a valores, além de ser definido pela própria escola, sem nenhuma interferência de qualquer entidade de administração.
Quando verifico uma federação estabelecendo tabela de valores de exames de faixa, fico estupefacto. É como se o taekwondo, os professores e mestres tivessem aparecido depois delas. É como se a federação tivesse primeiro sido criada e depois viessem o corpo docente da modalidade. É simplesmente surreal e que só acontece no Brasil por conta do nosso subdesenvolvimento intelectual.
Às vezes é bom deixar explicadinho as coisas, como se o praticante e os dirigentes fossem criancinhas de cinco anos. 
Então, vamos lá. Como a modalidade marcial aparece em determinado lugar? Resposta: por meio de alguém que resolve ensinar. Certo? Alguém acha que é diferente? Esse alguém começa a formar os que vão ensinar a modalidade. Depois, quando a coisa se espalha, surge a ideia de se criar uma entidade que organize eventos para estes praticantes. Daí, forma-se associações e as federações. Estas entidades vão precisar de filiados, correto? Elas vão mostrar ao instrutores, professores e mestres (que já realizam o seu próprio trabalho) as vantagens de se associarem. Uns vão querer entrar e outros não. Normal. Caberá à entidade mostrar a estes professores e mestres as vantagens em levar seus praticantes a se filiarem. Isso é o normal, correto e o que está na Lei do país. Não pode ser diferente.
Mas no Brasil é diferente. As federações criam regras que obrigam os que ensinam a se filarem e a submeterem seus alunos a banca examinadora destas federações. Os dirigentes se acham acima do bem e do mal. E pior, os instrutores, professores e mestres, mesmo achando errado, se submetem, por medo. Temem que a federação faça algo que os impeça de continuar ensinando.
Eu diria aos instrutores, professores e mestres de todo o Brasil: ninguém pode impedir você de ensinar taekwondo. Se alguma entidade tentar fazer isso, entre com um processo contra ela e saiba que você vai ganhar um bom troco de indenização por dano moral e material. Diria mais: deem uma banana a estas entidades que quiserem impor a vontade delas a vocês. Se não for vantajoso para o seu grupo, saia fora. Eles não vão poder fazer nada, pois a Constituição do país protege toda atividade não estabelecida em lei. Façam o seu trabalho de forma independente. A menos que você não consiga viver sem competir nos estaduais destas entidades. Aí, meu amigo, se a o taekwondo marcial não é o mais importante, se submeta aos ditames destes dirigentes e boa sorte.

Minha sugestão é que cada mestre tente se registrar diretamente à Kukkiwon, realize seus exames de faixa e registre seus atletas diretamente lá, como fazemos aqui no Rio de Janeiro na Escola Highway One. Dai, no dia que aparecer um dirigente que passe a cumprir a lei e compreenda que é ele quem precisa de você e não o contrário, registre-se.