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sábado, 1 de março de 2014

Realidade do Taekwondo brasileiro esbarra em Seleção para o ano inteiro

Marcus Rezende

Foto: Semile Rigobele
Jogos Abertos de 2013 - Alguns dos responsáveis pela nova geração de atletas brasileiros. Da esq. para a dir: Frederico Mitooka, Washington Azevedo, os talentosos irmãos Reginaldo e Clayton Santos, Belmiro Giordani e Sérgio Alberto

Pode ser até glamouroso realizar uma competição para definir os atletas que vão compor a seleção brasileira de taekwondo para o ano inteiro. Pode ser...Porém, em minha opinião, é insensato e contraproducente, visto que o ânimo de representar a Seleção deve estar aberto o ano inteiro.
Com a fórmula atual que perdura desde 2003, aos vencedores, pura felicidade. Aos que perderam, pura desolação.
Cá pra nós, se nem nas seleções de esportes coletivos isso ocorre, por que então tem que ocorrer justamente em um esporte individual como o taekwondo?
Vamos usar como exemplo o futebol. Alguma vez a CBF definiu uma Seleção Brasileira para o ano inteiro? Nunca. Por quê? Porque os atletas podem estar em boas condições físicas e técnicas hoje e não tão bem dois meses depois. O que a CBF faz? Realiza CONVOCAÇÕES. E o taekwondo o que deveria fazer? Realizar SELETIVAS para as competições do ano em curso. Está é a lógica que deveria permear nossa modalidade esportiva.
É necessário acrescentar, obviamente, que a realidade atual deste esporte marcial é movimentada por dinheiro público, o qual vem bancando todas as atividades da confederação. E aí perguntariam: como então definir aqueles que seriam bancados com esta verba pública? Ora, se é preciso nomes de atletas para uma remuneração, que se pense em uma fórmula por meio da qual, durante o ano em curso, os merecedores conquistem esta benesse, sem atrelamento à vaga definitiva na seleção. A Seletiva de início do ano não poderia servir para este fim?
Por outro lado, em vez de definir uma seleção para o ano inteiro, a CBTKD poderia também dar aos atletas brasileiros mais bem posicionados no ranking nacional e internacional status de atleta de seleção, tão-somente. Não estou dizendo, no entanto, que as regras para este ano devam ser modificadas. Já foram definidas e devem permanecer; seria uma injustiça com o trabalho árduo dos jovens irmãos treinadores de São Caetano, Reginaldo e Clayton Santos que puseram cinco atletas neste seleto grupo. Porém, é preciso que se faça esta reavaliação a partir de 2015.
Do jeito que está, os “derrotados” da seletiva definidora (que ocorre sempre em início de temporada), além da frustração da não conquista da vaga, para terem nova oportunidade, terão de viajar loucamente pelos OPENS caça niqueis, Brasil afora, para acumular pontos no ranking nacional e poderem competir novamente na seletiva única em 2015. O resultado, em muitos casos, em razão desta maratona, é o desestímulo de muitos atletas que, às vezes, param de competir para cuidar da vida. E quem perde com isso: o taekwondo brasileiro.
É preciso olhos atentos para enxergar que a fórmula está equivocada desde 2002, ano em que a Lei Piva iniciou o repasse de verba pública à CBTKD. A entidade, a partir desta época, assumiu uma postura paternalista e trouxe pra si a responsabilidade de preparar os atletas brasileiros, desconsiderando completamente o fato de que cada um deles possuía o próprio treinador.
Ao longo desses 12 anos, as Comissões Técnicas da CBTKD foram se intrometendo no trabalho dos treinadores brasileiros, os quais passaram a não conseguir plenamente planejar a vida técnica e atlética de seus atletas. E nessa toada, a Comissão da CBTKD, “viajando na maionese”, ia acreditando (como acredita até hoje) que o trabalho de desenvolvimento do jovem tinha de ser de responsabilidade deles.
Já imaginaram, por exemplo, a CBDA decidindo que vai começar a treinar o César Cielo? Algum dos leitores consegue imaginar isso? Por que não? Por que o cara é o melhor do mundo e treina nos EUA com o próprio treinador para ganhar medalhas para o Brasil.
Por que então aqui no Brasil querem reunir uma Seleção de atletas de Taekwondo e dar a eles uma direção que eles já possuem? Vão dizer (por exemplo) a Natália, ao Diogo, Márcio; aos Guilhermes e aos jovens de São Caetano como devem treinar? Eles não sabem? Não possuem seus treinadores?
Com cinco atletas nesta seleção formada, os geniais irmãos de São Caetano (Clayton e Reginaldo Santos) vão perder seus atletas para a vaidade da Comissão Técnica da Seleção Brasileira? Ou serão convocados para dar continuidade ao mesmo erro atualmente perpetrado? Os treinadores querem tranquilidade e apoio para continuar a produzir talentos para o taekwondo brasileiro.
Portanto, é hora de a CBTKD acordar. O Taekwondo é um esporte individual. Temos atletas de altíssimo nível no Brasil que só precisam que a entidade não os atrapalhe.

O Taekwondo brasileiro, por meio do trabalho de alguns treinadores, vem tentando criar uma forma própria de se conduzir. Porém, a CBTKD não está acompanhando esta nova realidade. Para finalizar, fica aqui o meu louvor ao trabalho realizado em São Caetano. O taekwondo brasileiro já começa a ficar devendo também a Reginaldo e Clayton Santos.